terça-feira, 24 de julho de 2012

Matéria sobre novos autores de romances

Jornal do Comércio – Panorama – 19 de julho de 2012

Para chegar às prateleiras
Ricardo Grunner

“Muitas vezes se confunde o conto como uma porta de entrada para a literatura porque é curtinho, mais fácil de enxergar por inteiro, só que não é necessariamente assim”. A frase é do jornalista Gustavo Machado, que estreou na literatura com o romance Sob o céu de agosto (168 págs., R$ 35,00), mas tem sustentação no catálogo de editoras e em um contexto de que publicar um livro não é algo tão difícil assim. Basta saber como correr atrás deste objetivo.

Após escrever textos menores, publicando apenas eventualmente na internet, o autor concluiu a primeira versão da obra em meados da década passada, ganhando uma menção honrosa no I Prêmio Casa de Cultura Mario Quintana. Em 2010, o título saiu pela Dublinense, indicado por uma amiga ligada à editora e aprovado por ambas as partes: “Eu nunca mandei para outra. Uma do Paraná pediu uns originais, mas  não me acertei. Tem muita editora que é gráfica disfarçada”, diz ele, em referência a empresas que fazem apenas o serviço de impressão, enquanto o custo é bancado todo pelo escritor.

Entretanto, para uma editora que trabalhe de fato com um projeto consistente de revisão, gráfica, distribuição e divulgação, nem sempre dinheiro é suficiente. “Às vezes o cara pode ter R$ 20 mil e não vai editar. Porque a gente investe tempo, nome, marca”, defende Clô Barcellos, da Libretos, ressaltando que a qualidade do texto é o principal atributo necessário para um romance vir a ser publicado. Como a Libretos não é de grande porte - e mesmo assim recebe um original por dia -, costuma ver o prêmio Fumproarte, oficinas de criação literária e avais de outros escritores como diferenciais. Fora isso, os títulos recebidos também têm necessariamente de caber na linha da editora, o que nem sempre acontece.

Foi pesquisando as características das editoras que a carioca Ana Paula Fohrmann conseguiu ter seu romance de estreia, A amante do lobo, publicado. Assim como Machado, a autora não teve aulas de escrita e nem participou de coletânea de contos. Ela fez um levantamento antes de começar a mandar a obra para todo o Brasil: “Enviei para umas cinco editoras diferentes. Olhei na internet o perfil delas, se teria essa entrada para romances psicológicos, e também a credibilidade. A mim não era tão importante uma marca famosa, porque sei que é bastante difícil penetrar nelas quando você é um autor jovem, iniciante”, relembra. Cinco meses após o término da obra, ela tinha a confirmação de que passaria a integrar o catálogo da Libretos.

Outra solução para romancistas de primeira viagem está nos selos voltados para autores iniciantes, como o Novos Talentos, do Grupo Novo Século. Lá, são priorizados os livros de estreia de cada autor, que não pode ter outras obras distribuídas no mercado, e considerados o tema da história, a narrativa e a idade do candidato. De acordo com Luiz Vasconcelos, diretor do grupo, são recebidos 200 exemplares por mês, sendo 90% histórias longas dos gêneros romance, aventura ou fantasia, em detrimento de antologia de contos ou crônicas.

Para analisar todo o material, que gera em média sete livros, o Novos Talentos conta com três pessoas internas, pareceristas (profissionais que qualificam textos) terceirizados e um manual interno de normas para avaliação de originais. Mesmo assim, ele aconselha que os aspirantes a escritor tentem marcar horários para apresentar seus trabalhos pessoalmente, independentemente da editora. “No nosso mercado, marca não vende livro, quem vende é a livraria”. E adverte: “Sempre há riscos ao publicar os novos e os grandes”, uma vez que são raros os romancistas brasileiros cujos títulos tenham tiragem maior do que três mil exemplares (quanto maior o número, menor o valor unitário).

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