Por Israel de Castro
Dois jovens apaixonados mas em crise. De famílias abastadas
de uma cidade provinciana. Metade do século passado. Em um baile, pinta o ciúme
e eles desaparecerem. No outro dia, só o rapaz é encontrado, perambulando pela
cidade, ferido. A moça sumiu. Está morta. Quem a matou? Como morreu? Poderia
ser a sinopse de um thriller do cinema americano, mas é um fato real que virou
livro no Brasil. É dessa história que trata o excelente A Dama da Lagoa,
do jornalista Rafael Guimaraens.
Rafael se valeu do depoimento de pessoas e dos registros na
imprensa da época para reconstituir, de maneira romanceada, um dos maiores
suspenses de Porto Alegre. Ao longo da narrativa, ele acompanha os indícios que
tentam desvendar a morte da jovem Maria Luiza Häusller, cujo corpo foi
encontrado na Lagoa dos Quadros, no caminho para o Litoral Norte.
A menina de 17 anos, descendente de alemães, estava com o
namorado, o também germânico e playboy Heinz Schmeling, antes de morrer. Ele
alegou que ela se matara, enquanto ambos estavam no carro do padrasto dele, mas
antes a moça teria tentado assassiná-lo com a arma encontrada no porta-luvas,
motivada por uma discussão. A polícia trabalhava com a hipótese de homicídio,
já que o rapaz confessara como escondera o corpo da namorada. Qual era a
verdade?
O livro começa com pitadas da vida boêmia de jornalistas da
época, que passeiam por ruas da Capital de 1940. A viagem pela Porto
Alegre também mostra o funcionamento da imprensa escrita. O repórter que
descobre o recente desaparecimento da menina é proibido de dar o furo pelo
chefe de seu jornal, o Correio do Povo. “– Guarde. Não vamos publicar”, diz o
editor. “– Como não?! Está tudo aí”, rebate o outro. “– Ordens de cima”,
conclui. Só na sequência, com a cidade em polvorosa com tamanho crime na alta
sociedade, os jornais passam a acompanhar de perto as investigações.
Das curiosidades jornalísticas, o livro passa à luta no
tribunal. De um lado, um jovem advogado tenta provar a tese de Heinz, de que
ele não é o assassino, mas vítima da namorada. De outro, polícia, promotor e o
advogado da família de Maria querem que o júri condene o rapaz por assassinato.
O veredicto está no livro, mas a verdade até hoje ninguém sabe.
Link para a matéria no site: http://literaturma.com.br/?p=992
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