Texto de Léo Gerchmann, autor do livro Coligay: tricolor e de todas as cores que saiu no De Fora da Área da última sexta-feira, sobre os episódios de racismo e discriminação da torcida do Grêmio, vejam:
Léo Gerchmann: não quero racistas torcendo comigo
Fiquei com vontade de escrever, não só em redes sociais, mas
aqui. Pedi este espaço ao editor de Esporte, Diego Araujo, e vou falar de
vocês, seus bandidos racistas que emporcalham meu clube
por Léo Gerchmann- repórter de ZH autor de Coligay -
Tricolor e de todas as cores
29/08/2014 | 17h19
Horas depois do nosso mais recente Gre-Nal, abri o Facebook
e li o comentário de uma amiga colorada. Dizia que a grande derrota do meu
Grêmio naquele jogo não havia sido os 2 a 0, mas os insultos ao Fernandão.
Curti o lúcido post da Doly, mas não o comentei. Comentar o
quê? Certamente, ela viu que ali estava um gremista fanático (sim, é isso o que
sou) solidário com o legítimo sentimento de revolta que tomava conta dos
colorados — mas não só deles. E valia ali aquele velho bordão: sem
comentários! Depois, senti certo alívio quando a mulher do Fernandão teve a
grandeza de dizer que aquela corja não representava o Grêmio. Ufa!
Hoje, não. Fiquei com vontade de escrever, não só em redes
sociais, mas aqui. Pedi este espaço ao editor de Esporte, Diego Araujo, e vou
falar de vocês, seus bandidos racistas que emporcalham meu clube. O Diego, meu
amigo, sabe do livro que escrevi, o Coligay — Tricolor e de todas as
cores. Olhou para mim e disse:
Falei bandidos, antes? Sim, vocês são bandidos! Racismo é
crime. Portanto, quem o pratica é bandido. Tão bandido quanto os quatro
colorados que surraram e jogaram o menino gremista de 15 anos desacordado numa
poça d'água, naquele mesmo Gre-Nal citado acima. Mas hoje me refiro aos
criminosos que incorrem no artigo 140 do Código Penal. Peço-lhes: caso vocês se
achem gremistas, renunciem a essa condição da qual tanto me orgulho.
Caiam fora! Não quero vocês lá na Arena torcendo comigo.
Saibam que o Grêmio, o clube que acolheu a Coligay em pleno regime militar, não
só deu o maior exemplo de diversidade da história do futebol brasileiro.
Pasmem, mas foi no Grêmio que jogou o primeiro negro da dupla Gre-Nal, o Adão
Lima, entre 1925 e 1935. Eu os convido, se é que vocês têm capacidade para
interpretar textos, a ler artigo escrito na antiga Última Hora pelo autor do
hino tricolor, o negro Lupicínio Rodrigues.
Duvido que haja algum hino tão representativo do espírito de
um clube. Fala em humildade, perseverança e superação, em paixão que leva
alguém a ir a pé aonde der e vier. O Lupi conta, no artigo, por que se tornou
torcedor apaixonado do clube que foi o primeiro a verdadeiramente abrir os
braços para os negros, aceitando os garotos da Liga da Canela Preta numa
sociedade segregacionista. Leia o texto do Lupi, que reproduzo no meu livro, e
se convença: você não representa esse clube!
Confira aqui a reprodução do texto de Lupicínio na Última Hora.
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