segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Léo Gerchmann: não quero racistas torcendo comigo

    Texto de Léo Gerchmann, autor do livro Coligay: tricolor e de todas as cores que saiu no De Fora da Área da última sexta-feira, sobre os episódios de racismo e discriminação da torcida do Grêmio, vejam:

Léo Gerchmann: não quero racistas torcendo comigo

   Fiquei com vontade de escrever, não só em redes sociais, mas aqui. Pedi este espaço ao editor de Esporte, Diego Araujo, e vou falar de vocês, seus bandidos racistas que emporcalham meu clube

por Léo Gerchmann- repórter de ZH autor de Coligay - Tricolor e de todas as cores
29/08/2014 | 17h19

    Horas depois do nosso mais recente Gre-Nal, abri o Facebook e li o comentário de uma amiga colorada. Dizia que a grande derrota do meu Grêmio naquele jogo não havia sido os 2 a 0, mas os insultos ao Fernandão.

   Curti o lúcido post da Doly, mas não o comentei. Comentar o quê? Certamente, ela viu que ali estava um gremista fanático (sim, é isso o que sou) solidário com o legítimo sentimento de revolta que tomava conta dos colorados — mas não só deles. E valia ali aquele velho bordão: sem comentários! Depois, senti certo alívio quando a mulher do Fernandão teve a grandeza de dizer que aquela corja não representava o Grêmio. Ufa!

   Hoje, não. Fiquei com vontade de escrever, não só em redes sociais, mas aqui. Pedi este espaço ao editor de Esporte, Diego Araujo, e vou falar de vocês, seus bandidos racistas que emporcalham meu clube. O Diego, meu amigo, sabe do livro que escrevi, o Coligay — Tricolor e de todas as cores. Olhou para mim e disse:

— Vai fundo, Léo. O tema é Grêmio e diversidade.

   Falei bandidos, antes? Sim, vocês são bandidos! Racismo é crime. Portanto, quem o pratica é bandido. Tão bandido quanto os quatro colorados que surraram e jogaram o menino gremista de 15 anos desacordado numa poça d'água, naquele mesmo Gre-Nal citado acima. Mas hoje me refiro aos criminosos que incorrem no artigo 140 do Código Penal. Peço-lhes: caso vocês se achem gremistas, renunciem a essa condição da qual tanto me orgulho.

   Caiam fora! Não quero vocês lá na Arena torcendo comigo. Saibam que o Grêmio, o clube que acolheu a Coligay em pleno regime militar, não só deu o maior exemplo de diversidade da história do futebol brasileiro. Pasmem, mas foi no Grêmio que jogou o primeiro negro da dupla Gre-Nal, o Adão Lima, entre 1925 e 1935. Eu os convido, se é que vocês têm capacidade para interpretar textos, a ler artigo escrito na antiga Última Hora pelo autor do hino tricolor, o negro Lupicínio Rodrigues.

   Duvido que haja algum hino tão representativo do espírito de um clube. Fala em humildade, perseverança e superação, em paixão que leva alguém a ir a pé aonde der e vier. O Lupi conta, no artigo, por que se tornou torcedor apaixonado do clube que foi o primeiro a verdadeiramente abrir os braços para os negros, aceitando os garotos da Liga da Canela Preta numa sociedade segregacionista. Leia o texto do Lupi, que reproduzo no meu livro, e se convença: você não representa esse clube!


  Confira aqui a reprodução do texto de Lupicínio na Última Hora.

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