"A trajetória do sargento Manoel Raymundo Soares sempre me
fascinou. Filho de mãe solteira, passou uma infância muito pobre em Belém do
Pará. Mudou-se para o Rio de Janeiro com o objetivo de servir ao Exército
Nacional. Nesta foto, logo após o alistamento, ele tem 19 anos. Autodidata, lia
tudo o que lhe caía às mãos e adquiriu gosto pela música clássica. Com apenas
1,55 de altura, valente, politizado e solidário com seus companheiros,
tornou-se uma das principais lideranças do movimento dos sargentos por
dignidade e em defesa das reformas de base do Governo Jango, durante os
primeiros anos da década de 1960. Expulso do Exército, aderiu à resistência
armada à ditadura. Foi preso em Porto Alegre, em março de 1966. Brutalmente torturado
na Polícia do Exército e do DOPS gaúcho, permaneceu detido ilegalmente durante
seis meses na Ilha do Presídio, de onde enviou cartas apaixonadas e
gramaticalmente irrepreensíveis à esposa Betinha, denunciando sua prisão
ilegal. Em agosto, os órgãos repressivos articulados no clandestino “Dopinha”
simularam sua libertação. Na verdade, após nova sessão de torturas, ele seria
assassinado. Seu corpo apareceu boiando às margens da Ilha das Flores, com as
mãos arramadas às costas. Foi a primeira vítima fatal da ditadura
civil-militar. Estou contando essa história, repleta de episódios dramáticos e
personagens marcantes, cujo trágico desfecho completa 50 anos, com uma
linguagem de romance político-policial no livro “O sargento, o marechal e o
faquir”, em breve nas bancas. É um dos trabalhos que mais me gratificaram.
Espero que gostem"
O livro é patrocinado pela Caixa Econômica Federal.
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