terça-feira, 11 de março de 2014

De madrugada lendo o Coojornal

Texto sobre o Coojornal publicado no blog do Luiz da Motta:

De madrugada lendo sobre o cooJORNAL

Recomendo fortemente a leitura desse livro que resgata a memória do cooJORNAL – periódico mensal editado pela Cooperativa dos Jornalistas de Porto Alegre, entre 1975 e 1982.

Ganhei da minha querida companheira de luta ambiental, Silvia Marcuzzo, e não consigo parar de ler.

O cooJORNAL  valorizava reportagens de fôlego. Sua equipe tinha coragem de retratar a realidade brasileira, apesar da ditadura.

Publicado numa Porto Alegre, que fervilhava culturalmente, época em que o Brasil sofria a hegemonia do Inter, o jornal gaúcho não deixava de dialogar com o resto do mundo – ao contrário de hoje, quando o estado parece estar cada vez mais fechado em si.

É uma aula para quem busca ideias editoriais para a prática de um bom jornalismo – com ou sem redes sociais.

Mas o que me deixou essa madrugada sem conseguir tirar o olho do livro foi o conteúdo histórico das reportagens.

Em tempos em que grandes veículos se escondem atrás de “princípios editoriais”, o livro mostra que a notícia bem apurada, bem redigida, não morre, tampouco se confunde com redes sociais.

Das matérias que li, nada ficou velho. Todo o conteúdo segue imprescindível pra entendermos o presente.
Dialogo - Exemplo disso é “Argentina – No vá más!”, primor de reportagem sobre a abertura da política naquele país, quando Videla começava a dialogar com instituições nacionais.

O relato ajuda quem ainda tenta entender como foi que tamanha bestialidade tomou conta de uma das sociedades mais avançadas da América Latina.

O autor, Geraldo Hasse, foi a Buenos Aires e trouxe uma matéria de clima - sempre comparando com um processo que o Brasil também vivia, mas que iniciara anos antes: a distensão política de Geisel: ampla, gradual e irrestrita.

A matéria lança mão da técnica que Luciano Martins Costa chamou recentemente no Observatório da Imprensa de “DNA da História”, que viria a ser adotada pelo Estadão nos anos 90.

“Tratava-se de estimular os editores a fazer sempre uma comparação dos fatos presentes com circunstâncias anteriores correlatas, por semelhança ou por divergência, para tentar entender o peso de cada dia diante da História.” (OI, dia 10/08/11)

Úmbigo - E não era por causa dessa preocupação com o resto do planeta, que o jornal gaúcho deixava de olhar pra o Rio Grande do Sul.

Exemplo disso são as impagáveis tiras do Analista de Bagé e uma dolorida matéria sobre as degolas, prática comum nas inúmeras lutas em que o espírito gaucho se envolveu.

A cena artística tampouco fica de fora: Caetano, Chico e principalmente Elis Regina.

Numa reveladora entrevista, a pimentinha, já carioca naquela época, faz papel de vítima, e direciona a conversa deliberadamente, diante dos enfeitiçados olhares dos repórteres. (Se fosse eu, também teria me deixado levar.)



Quem quiser o livro, é só acessar o site: http://www.coojornal.com.br ou na Editora Libretos

Link para a matéria original: http://luizdamotta.wordpress.com/2011/08/15/de-madrugada-lendo-sobre-o-coojornal/

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