Texto sobre o Coojornal publicado no blog do Luiz da Motta:
Recomendo fortemente a leitura desse livro que resgata a
memória do cooJORNAL – periódico mensal editado pela Cooperativa dos
Jornalistas de Porto Alegre, entre 1975 e 1982.
Ganhei da minha querida companheira de luta ambiental,
Silvia Marcuzzo, e não consigo parar de ler.
O cooJORNAL valorizava reportagens de fôlego. Sua
equipe tinha coragem de retratar a realidade brasileira, apesar da ditadura.
Publicado numa Porto Alegre, que fervilhava culturalmente,
época em que o Brasil sofria a hegemonia do Inter, o jornal gaúcho não deixava
de dialogar com o resto do mundo – ao contrário de hoje, quando o estado parece
estar cada vez mais fechado em si.
É uma aula para quem busca ideias editoriais para a prática
de um bom jornalismo – com ou sem redes sociais.
Mas o que me deixou essa madrugada sem conseguir tirar o
olho do livro foi o conteúdo histórico das reportagens.
Em tempos em que grandes veículos se escondem atrás de
“princípios editoriais”, o livro mostra que a notícia bem apurada, bem
redigida, não morre, tampouco se confunde com redes sociais.
Das matérias que li, nada ficou velho. Todo o conteúdo
segue imprescindível pra entendermos o presente.
Dialogo - Exemplo disso é “Argentina – No vá más!”,
primor de reportagem sobre a abertura da política naquele país, quando Videla
começava a dialogar com instituições nacionais.
O relato ajuda quem ainda tenta entender como foi que
tamanha bestialidade tomou conta de uma das sociedades mais avançadas da
América Latina.
O autor, Geraldo Hasse, foi a Buenos Aires e trouxe uma
matéria de clima - sempre comparando com um processo que o Brasil também
vivia, mas que iniciara anos antes: a distensão política de Geisel: ampla,
gradual e irrestrita.
A matéria lança mão da técnica que Luciano Martins Costa
chamou recentemente no Observatório da Imprensa de “DNA da História”, que
viria a ser adotada pelo Estadão nos anos 90.
“Tratava-se de estimular os editores a fazer sempre uma
comparação dos fatos presentes com circunstâncias anteriores correlatas, por
semelhança ou por divergência, para tentar entender o peso de cada dia diante
da História.” (OI, dia 10/08/11)
Úmbigo - E não era por causa dessa preocupação com o
resto do planeta, que o jornal gaúcho deixava de olhar pra o Rio Grande do Sul.
Exemplo disso são as impagáveis tiras do Analista de Bagé e
uma dolorida matéria sobre as degolas, prática comum nas inúmeras lutas em que
o espírito gaucho se envolveu.
A cena artística tampouco fica de fora: Caetano, Chico e
principalmente Elis Regina.
Numa reveladora entrevista, a pimentinha, já carioca naquela
época, faz papel de vítima, e direciona a conversa deliberadamente, diante dos
enfeitiçados olhares dos repórteres. (Se fosse eu, também teria me deixado
levar.)
Vídeo: debate
sobre o cooJORNAL
Quem quiser o livro, é só acessar o site: http://www.coojornal.com.br ou na Editora
Libretos
Link para a matéria original: http://luizdamotta.wordpress.com/2011/08/15/de-madrugada-lendo-sobre-o-coojornal/
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