segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Entrevista com José Aguiar - Coord. do Osmose

     Saiu na última sexta-feira, dia 04 de outubro uma entrevista com o coordenador do Osmose José Aguiar no Blog da Itiban, vejam:

Entrevista com José Aguiar


Amanhã, sábado, dia 5 de outubro, a partir das 17h, José Aguiar estará na Itiban para contar suas desventuras pela Alemanha, tanto pelo seu caderno de viagens (Reisetagebuch – Uma Viagem Ilustrada a Alemanha), quanto pelo projeto de intercâmbio de quadrinistas que ajudou a formatar (Osmose – Brasil e Alemanha em Quadrinhos).

Pra começar os trabalhos, conversamos com ele por email. A entrevistinha pode ser lida a seguir:

Tanto pelo Reisetagebuch, quanto pelo projeto Osmose, percebe-se uma ligação sua com a Alemanha. Como surgiu isso?
José Aguiar - A ligação veio por causa da minha esposa, Fernanda Baukat, que desde antes de namorarmos estudava alemão e sonhava conhecer a Alemanha. Com ela tive o primeiro contato com o idioma e também com um grupo de teatro chamado Wir Sprechen Deutsch (Nós Falamos Alemão) do qual ela participava. Fui à Alemanha para acompanha-la quando foi premiada com uma bolsa-sanduíche da UFPR na Universidade de Leipzig. Não fosse por ela talvez nunca tivesse visitado aquele país. Nem teria feito meu Reisetagebuch. Obrigado, querida!
O projeto Osmose surgiu para mim em decorrência da boa repercussão tanto das exposições do “Reise”, quanto do meu trabalho na Gibicon. O senhor Reinhardt Sauer, na época diretor do Goethe-Institut de Porto Alegre, visitava Curitiba e fui convidado a conhecê-lo. Era 2011 e ele estava interessado em criar um programa bilateral de residência artística para quadrinistas do Brasil e Alemanha.
O Goethe-Institut na última década trouxe ao Brasil vários quadrinistas alemães ainda desconhecidos por aqui. Eu tive a oportunidade de colaborar com as visitas de FLIX, Ulli Lust e Jens Harder para Curitiba. Essa ideia do Sauer coroou esse diálogo, tornando-o, enfim, bilateral. O que foi perfeito graças a chegada do “Ano da Alemanha no Brasil”, que se iniciou agora em 2013.
Na ocasião pensei que seria convidado a ser um dos artistas residentes. Mas ele procurava autores locais que nunca tivessem ido para a Alemanha. Algum tempo depois, para minha surpresa, ele me convidou a tomar parte na coordenação do projeto. Não fui à Alemanha de novo, mas ajudei a formatar o projeto e mandando três grandes artistas para lá: João Montanaro, Paula Mastroberti e Antonio Amaral.


Você sempre quis fazer o livro de viagens na Alemanha, estava somente juntando material pras HQs ou por qualquer outra razão?
José Aguiar - Em minha primeira viagem para lá eu não tinha a intenção de fazer um livro sobre o assunto. Estava mais interessado em usufruir a experiência, pois se tratava de um semestre em que estava quase desligado do meu ambiente normal, longe da minha zona de conforto. Tanto que no início passava mais tempo fotografando do que desenhando. Mas o bombardeio de informações logo colocou em mim o desejo de rabiscar. Surgiu uma ou outra ideia de HQ em minha cabeça, mas ainda era cedo e descartei tudo. Tinha muito que entender sobre aquela experiência antes de fazer algo concreto sobre ela. Assim, aos poucos fui desenhando só para mim. Com o tempo, na medida em que fui enchendo meu caderno, surgiu a ideia de uma exposição no meu retorno. Foi o que aconteceu no fim de 2006, na sede do Goethe-Institut Curitiba. A ideia do livro veio bem depois.

Reisetagebuch é um livro de viagens bem no estilo clássico desse tipo de material: desenhos, fotos e depoimentos do autor que viveu as experiências contadas no livro, tudo bem pessoal. Existiu um limite da intimidade do autor que não quis revelar?
José Aguiar - Eu sempre gostei de livros de ilustração. Nunca achei que seria capaz de reunir um número suficiente de desenhos sobre um tema que justificasse o livro. Então essa era uma vontade que provavelmente ficaria para um futuro distante. Alguns anos antes eu tive contato com cadernos de viagem editados pela editora Casa 21 e comecei a me interessar pelo tema. Mas eu não viajava muito. Ainda mais para um lugar tão distante e diferente do que conhecia. Esse vivência me amadureceu de muitas maneiras. Não fosse assim não teria feito o livro da maneira como ficou. 
Inclusive, no conceito inicial, seria outro formato e teria bem menos texto. Mas ao revisitar o material que havia produzido, pensar no que faltou ser ilustrado, repensei tudo.
O distanciamento pelo tempo me permitiu uma reflexão sobre tudo o que vivi. O que me ajudou a escrever depoimentos sinceros, pois eu queria conversar com o leitor. Eu queria que ele se sentisse companheiro na jornada. Um amigo. 
O limite dessa intimidade com o leitor provavelmente é aquele que não me permitiu abrir mais a intimidade do casal de viajantes. Se falasse de nossa vida pessoal em primeiro plano, o livro teria outro sentido. Aí seriamos protagonistas, personagens! Mas a minha intenção era falar da Alemanha. Não de nós. Sim, através do livro somos o canal entre o leitor e aquele país através de meu ponto de vista. Mas não vi sentido em esmiuçar todas as experiências para tentar forjar uma relação mais expositiva. Isso eu preferiria fazer na forma de uma ficção inspirada em nossas viagens. Tenho uma ideia para uma graphic novel que parte desse princípio que espero realizar em breve.


Qual é a diferença de pensar o material do Reisetagebuch e de uma HQ?
José Aguiar – Acredite ou não, Reisetagebuch foi um projeto mais fácil de fazer do que uma HQ. Como não se tratava a princípio de um de livro, foi surgindo organicamente. Primeiro em desenhos em meu caderno, depois ilustrações de temas específicos que renderam duas exposições até chegar à ideia do livro. Já uma HQ precisa de um planejamento mais ordeiro desde o princípio, senão acaba inconclusa ou sem sentido.
Quando chegou a hora de escrever o livro, a partir das imagens que criei e do acervo que montei, já estava tudo lá. Era só por a casa em ordem.


Qual foi seu trabalho no Osmose como curador e de que maneira chegou a esses artistas?
José Aguiar - Na verdade, a curadoria do evento ficou a cargo do jornalista e tradutor Augusto Paim. Eu participei das discussões e escolhas dos possíveis candidatos, pois era consultado durante todo o processo devido a minha experiência como autor e curador de eventos de quadrinhos. Mas as minhas reais funções foram ajudar na formatação do projeto, cronogramas de trabalho e parâmetros editoriais para os artistas, com quem mantive contato durante suas viagens. Quando a Libretos assumiu a edição do livro acompanhei o processo para que estivesse dentro dos critérios definidos pelo Goethe-Institut.
Os artistas foram escolhidos a partir de diversos critérios: queríamos que representassem diferentes regiões, gerações e traços de ambos os países. Que fossem artistas capazes de realizar tanto roteiro quanto desenho, mas que tivessem uma obra autoral, no sentido de não serem autores que trabalham sob encomenda para os mercados americano ou europeu. E, como disse antes, que ainda não tivessem visitado o país onde iriam registrar em uma HQ inédita.
Assim, cada um viveu um mês longe de casa e criou, além dos diversos esboços presentes no blog do projeto, o livro Osmose – Brasil e Alemanha em Quadrinhos que se tornou meu segundo projeto realizado sobre a Alemanha em 2013, publicado no mesmo ano do meu diário de viagens pessoal, o Reisetagebuch – Uma Viagem Ilustrada pela Alemanha, o que fechou um ciclo de minha vida relacionado à Alemanha.


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