Na leitura de A edição
contemporânea fora da curva: testemunhos de editores brasileiros e portugueses
(título original da dissertação apresentada à Universidade de Aveiro por
Jessica Caroline Kilpp, Mestre em Estudos Editoriais, em 2021), logo fui compondo
um universo no qual estamos inseridos e batendo cada ponto com a nossa prática.
Afinal, dentre as entrevistadas, está a Libretos.
No espaço editorial de 1990, havia um domínio de gigantes. E nos tornamos uma editora empresarial, sim, preocupada com metas de tiragens e vendas, mas promovendo a bibliodiversidade. Fazemos livros sem apelo comercial e sem prospecção de lucro.
Entendi que sim, pesamos pouco no jogo, mas “asseguramos a razão de ser o que justifica nossa existência” (Bordieu/J. Kilpp). Nos identificamos com a qualidade de nossos autores.
Concordamos com Jessica e os conceitos pesquisados. Sim, o editor é um agente-duplo (Bordieu, 2018). Precisa combinar competência literária e realismo econômico. Sim, sofremos ameaças de políticas neoliberais e concentração do setor. Focamos no que está sendo publicado e em quais as ideias que circulam.
Nos identificamos com isto: a edição é uma atividade social, cultural e transformativa – “feita por aqueles que estão ao lado da justiça social”(Hawthorne, 2014). Ninguém nega a importância de grandes editoras e destacamos: “Tornaram o livro acessível às massas gerando transformação social” (Kilpp, 2021). Porém, o fato de a editora ser grande não significa que o catálogo é diverso.
Propomos ideias novas e controversas/vozes literárias mais desafiadoras. Sim, o panorama no mundo dos livros é a redução da qualidade dos processos. Somos autônomos em decisões editoriais desde o catálogo à escolha dos processos de produção. Temos foco nos lançamentos e fundo de catálogo. E concordamos: os leitores devem estar expostos a diferentes vozes.
Alguns pontos que destacamos abaixo fazem parte do nosso universo na prática e confirmamos a importância da pesquisa de Jéssica.
• Sim! O espaço editorial é
pluridimensional! “O independente encontra-se enredado”(Muniz, 2016)
• Definimos e descrevemos as
práticas a partir de nosso entendimento sobre produção editorial.
• Temos “qualquer coisa de
diferente”.
• Temos autonomia de decidir o que
publicar. Pretendemos ser “um projeto intelectual e relevância perene” (Muniz,
2016).
• Criamos comunidade e centramos
no que perdura (que lindo isto!).
• Sim! A Libretos não é só “um
carimbo comercial”. Temos uma
identidade, uma produção editorial
específica.
• Somos uma editora “nanica”, mas
o bastião de resistência das forças do mercado.
• Somos uma editora com autonomia
em relação à política social.
• Vivemos em bibliodiversidade
(capacidade do setor de edição produzir obras diversas).
• Preservamos e fortalecemos a pluralidade e a difusão de ideias (Aliança Internacional das Editoras Independentes).
A edição fora da curva, de
Jessica Kilpp, é uma obra fundamental em um mercado que se entende autodidata. E
se consolida como mais um documento básico e fundador na construção de uma
profissão ainda em andamento.
Clô Barcellos
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