quarta-feira, 22 de setembro de 2021

Edição fora da curva.

 

Na leitura de A edição contemporânea fora da curva: testemunhos de editores brasileiros e portugueses (título original da dissertação apresentada à Universidade de Aveiro por Jessica Caroline Kilpp, Mestre em Estudos Editoriais, em 2021), logo fui compondo um universo no qual estamos inseridos e batendo cada ponto com a nossa prática. Afinal, dentre as entrevistadas, está a Libretos.

 As editoras apontadas neste trabalho seriam exceções no mercado. Possuiriam “algo de diferente”. Já na introdução, sentimos a primeira identidade com a Libretos. Somos, sim, uma empresa que promove a bibliodiversidade.

No espaço editorial de 1990, havia um domínio de gigantes. E nos tornamos uma editora empresarial, sim, preocupada com metas de tiragens e vendas, mas promovendo a bibliodiversidade. Fazemos livros sem apelo comercial e sem prospecção de lucro.

Entendi que sim, pesamos pouco no jogo, mas “asseguramos a razão de ser o que justifica nossa existência” (Bordieu/J. Kilpp). Nos identificamos com a qualidade de nossos autores.

Concordamos com Jessica e os conceitos pesquisados. Sim, o editor é um agente-duplo (Bordieu, 2018). Precisa combinar competência literária e realismo econômico. Sim, sofremos ameaças de políticas neoliberais e concentração do setor. Focamos no que está sendo publicado e em quais as ideias que circulam.

Nos identificamos com isto: a edição é uma atividade social, cultural e transformativa – “feita por aqueles que estão ao lado da  justiça social”(Hawthorne, 2014). Ninguém nega a importância de grandes editoras e destacamos: “Tornaram o livro acessível às massas gerando transformação social” (Kilpp, 2021). Porém, o fato de a editora ser grande não significa que o catálogo é diverso.

Propomos ideias novas e controversas/vozes literárias mais desafiadoras. Sim, o panorama no mundo dos livros é a redução da qualidade dos processos. Somos autônomos em decisões editoriais desde o catálogo à escolha dos processos de produção. Temos foco nos lançamentos e fundo de catálogo. E concordamos: os leitores devem estar expostos a diferentes vozes.

Alguns pontos que destacamos abaixo fazem parte do nosso universo na prática e confirmamos a importância da pesquisa de Jéssica.

• Sim! O espaço editorial é pluridimensional! “O independente encontra-se enredado”(Muniz, 2016)

• Definimos e descrevemos as práticas a partir de nosso entendimento sobre produção editorial.

• Temos “qualquer coisa de diferente”.

• Temos autonomia de decidir o que publicar. Pretendemos ser “um projeto intelectual e relevância perene” (Muniz, 2016).

• Criamos comunidade e centramos no que perdura (que lindo isto!).

• Sim! A Libretos não é só “um carimbo comercial”.  Temos uma identidade,  uma produção editorial específica.

• Somos uma editora “nanica”, mas o bastião de resistência das forças do mercado.

• Somos uma editora com autonomia em relação à política social.

• Vivemos em bibliodiversidade (capacidade do setor de edição produzir obras diversas).

• Preservamos e fortalecemos a pluralidade e a difusão de ideias (Aliança Internacional das Editoras Independentes).

A edição fora da curva,  de Jessica Kilpp, é uma obra fundamental em um mercado que se entende autodidata. E se consolida como mais um documento básico e fundador na construção de uma profissão ainda em andamento.


                                                                                                                                 Clô Barcellos

 

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