quinta-feira, 21 de junho de 2012

Rafael Guimaraens e “Cultura às 18 horas” em Arroio dos Ratos

     Arroio dos Ratos é o berço da atividade mineradora na América Latina. A primeira concessão foi dada por Dom Pedro II ao norte-americano James Johnson, em meados do século 19. Agora, a mineração vem sendo reativada no Município e o melhor é que, graças ao esforço da comunidade cultural, está sendo implantado o Museu do Carvão, com um belíssimo acervo de maquinaria, objetos, documentação e depoimentos de trabalhadores, que recuperam uma lacuna muito importante da história do Rio Grande do Sul.

     Estive em Arroio dos Ratos (dia 18/06) participando de uma atividade que existe há 11 anos, chamada “Cultura às 18 horas”, para conversar com professores, monitores e alunos da Universidade Aberta. Falei do meu trabalho e da importância da preservação da memória como uma condição indispensável para a construção do futuro e o exercício da cidadania plena. E usei o exemplo do Museu do Carvão. Ao conhecermos as relações de trabalho existentes antigamente – de extremo sofrimento dos mineiros –, é possível construir novas relações em que a atividade econômica esteja condicionada aos direitos trabalhistas e à adoção de medidas que garantam a saúde e a qualidade de vida dos trabalhadores.

    Uma das maiores curiosidades dos presentes ao debate era o meu livro sobre a enchente de 1941, já que Arroio dos Ratos – na época, distrito de São Jerônimo – sofreu uma grande inundação em 1936. No salão onde ocorreu o debate, estavam expostas fotografias da enchente local e textos produzidos pelos alunos. Para motivá-los, a jovem professora Veruska Boldrini escreveu uma narrativa maravilhosa sobre a enchente, que reproduzo abaixo.

Boa leitura.
Rafael Guimaraens

ENCHENTE
Na umidade que subia do chão, sentia a vida que fugia
 de tudo que era seco, de tudo que tinha cor.
E que transformava tudo ao redor em cor de medo, cor de horror, cor de dor.
Cor de água parada, empoçada, alagada.
Cor de água turva, traiçoeira, morteira.
Água profunda, violenta, caborteira.
Água que caía no chão já molhado e encharcava ainda mais
 a alma, a mente, a vida da gente pobre que perdeu muito,
da gente toda que ficou sem pão.
Água que lavava e levava horta, terreiro, canteiro
e a esperança de um ano inteiro de suor, trabalho e torpor.
Água que lavava e levava sonho, casa, moerão,
coração de pai e mãe que viu o filho chorar,
que viu o gado todo espalhar,
que viu o poço da mina velha alagar.                                  
Água de lama suja, preta, carvoeira,
que chegava até onde o olho alcançou.
Restava, então, esperar a chuva passar,
esquecer o lamento do tempo,
 refazer o caminho, a marcha da fé.
E expurgar o nó da tristeza, essa dor latente
 que a gente quando perde muito sente.
Essa dor que mexe e que estremece a vida da gente...
Enchente...
VERUSKA BOLDRINI

Nenhum comentário:

Postar um comentário