Um pouco da história do Sete de Abril
por: Antônio Hohlfeld
Assim como a cidade de Pelotas é mais antiga do que Porto
Alegre, também seu teatro tem vida mais longeva do que o da atual capital do
Estado. Se o Theatro São Pedro é de 1858, o Theatro Sete de Abril é de 1831, na
medida em que um antigo armazém da cidade transformava-se, por iniciativa de
ilustres moradores da cidade, em sua primeira casa artística, sendo batizado
com a data de referência à maioridade de Dom Pedro II. Pelotas, na época, ainda
se chamava Freguesia de São Francisco de Paula. Seu atual nome, derivado de
umas barcaças feitas de couro cru, seria assumido apenas anos mais tarde.
Quanto ao teatro, e ainda antes de concluídas as obras de
adaptação do espaço original para uma casa de espetáculos, já apresentava
encenações como o drama patriótico Patriotismo e Gratidão, na passagem do
primeiro aniversário da maioridade. Tudo isso a gente fica sabendo a partir do
livro Sete de Abril - O teatro do imperador, do jornalista gaúcho Klécio
Santos, que, tendo se iniciado na profissão em Rio Grande, transferiu-se depois
para Pelotas e hoje em dia trabalha em Brasília, mas não esqueceu suas raízes.
Sete de Abril - O teatro do imperador é, na verdade, um
belo álbum de imagens, que recupera a história do teatro que, embora fechado
para (mais uma) reforma, espera-se que seja reaberto em breve, sobretudo
contando com a expectativa que a nova administração municipal está gerando. Não
é para menos: uma das entidades promotoras do projeto deste livro é o Instituto
João Simões Lopes Neto, de onde é oriunda a nova vice-prefeita de Pelotas.
Portanto, de fato, o Sete de Abril, no qual já tive a oportunidade de assistir
a um sem- número de espetáculos, foi o espaço de estreia e de sucesso de
algumas peças teatrais do famoso João Simões Lopes Neto, que merece no livro um
capítulo à parte, inclusive com a reprodução dos recortes de jornais da época.
Por outro lado, grandes nomes do teatro nacional e
internacional por ali passaram, e outros tantos nomes locais se projetaram
nacionalmente. O volume se abre com um manuscrito de Tônia Carreiro, que ali
esteve pela primeira vez em 1957 e ali voltaria em 1997, documentando ambas as
passagens. Ponto de passagem para os grupos que demandavam Montevidéu,
sobretudo em tempos de guerra, o Sete de Abril pôde conhecer artistas como Lucinda
Simões, João Caetano (considerado o primeiro ator brasileiro), Amélia
Lopiccolo, Furtado Coelho, Ismênia dos Santos, Clara della Guardia e Ignez
Imbimbo, ao mesmo tempo em que estreou a obra de Francisco Lobo da Costa, as
montagens do Teatro Escola de Pelotas (TEP), que revelaria, dentre outros,
Amilton Fernandes, que se tornaria conhecido mais tarde na televisão, além do
conjunto significativo de trabalhos do diretor Valter Sobreiro Júnior, a que
tive a oportunidade, inclusive, de assistir e registrar em algumas dessas
colunas.
A música também ganhou seu espaço especial: Guiomar Novais e
Magdalena Tagliaferro, dentre outros grandes nomes, apresentaram-se no Sete de
Abril, além de Zola Amaro, Amelita Galli-Curci e outros tantos nomes que
marcaram a música erudita e, especialmente, a ópera. As citações estariam
incompletas se não se registrasse, aqui, Bidu Sayão, soprano extraordinário,
que sempre encantava as plateias a que se apresentava.
Como era comum na época - e aconteceu inclusive com o Theatro
São Pedro -, o Sete de Abril também foi palco de festividades carnavalescas,
tanto quanto recebeu espetáculos de zarzuelas, muito populares ao final do
século XIX, originárias da Espanha, mas que alcançaram enorme sucesso também no
Brasil. O Sete de Abril, enfim, também se tornou cinema quando, em 1896, a nova arte chegava
ao Brasil e despertava curiosidades e paixões. Foi Francisco de Paula quem
revelou a nova arte em Porto Alegre e em Pelotas, logo após o sucesso dos
irmãos Lumière em Paris: de fato, já em 26 de novembro de 1896, houve uma série
de cinco espetáculos sucessivos desenrolados no teatro, para gáudio dos
pelotenses.
A revelação mais recente é o Grupo Tholl, mas isso já é
outra história. Por enquanto, torçamos para que o lançamento deste livro
(Libretos, Porto Alegre) seja uma espécie de avant-première do retorno daquele
teatro ao convívio da cidade.
Matéria publicada no Jornal do Comércio de 18/01/2013
http://jcrs.uol.com.br/site/noticia.php?codn=114008
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