segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

História do Sete de Abril no Jornal do Comércio


Um pouco da história do Sete de Abril 

por:  Antônio Hohlfeld

     Assim como a cidade de Pelotas é mais antiga do que Porto Alegre, também seu teatro tem vida mais longeva do que o da atual capital do Estado. Se o Theatro São Pedro é de 1858, o Theatro Sete de Abril é de 1831, na medida em que um antigo armazém da cidade transformava-se, por iniciativa de ilustres moradores da cidade, em sua primeira casa artística, sendo batizado com a data de referência à maioridade de Dom Pedro II. Pelotas, na época, ainda se chamava Freguesia de São Francisco de Paula. Seu atual nome, derivado de umas barcaças feitas de couro cru, seria assumido apenas anos mais tarde.

     Quanto ao teatro, e ainda antes de concluídas as obras de adaptação do espaço original para uma casa de espetáculos, já apresentava encenações como o drama patriótico Patriotismo e Gratidão, na passagem do primeiro aniversário da maioridade. Tudo isso a gente fica sabendo a partir do livro Sete de Abril - O teatro do imperador, do jornalista gaúcho Klécio Santos, que, tendo se iniciado na profissão em Rio Grande, transferiu-se depois para Pelotas e hoje em dia trabalha em Brasília, mas não esqueceu suas raízes.

     Sete de Abril - O teatro do imperador é, na verdade, um belo álbum de imagens, que recupera a história do teatro que, embora fechado para (mais uma) reforma, espera-se que seja reaberto em breve, sobretudo contando com a expectativa que a nova administração municipal está gerando. Não é para menos: uma das entidades promotoras do projeto deste livro é o Instituto João Simões Lopes Neto, de onde é oriunda a nova vice-prefeita de Pelotas. Portanto, de fato, o Sete de Abril, no qual já tive a oportunidade de assistir a um sem- número de espetáculos, foi o espaço de estreia e de sucesso de algumas peças teatrais do famoso João Simões Lopes Neto, que merece no livro um capítulo à parte, inclusive com a reprodução dos recortes de jornais da época. 

     Por outro lado, grandes nomes do teatro nacional e internacional por ali passaram, e outros tantos nomes locais se projetaram nacionalmente. O volume se abre com um manuscrito de Tônia Carreiro, que ali esteve pela primeira vez em 1957 e ali voltaria em 1997, documentando ambas as passagens. Ponto de passagem para os grupos que demandavam Montevidéu, sobretudo em tempos de guerra, o Sete de Abril pôde conhecer artistas como Lucinda Simões, João Caetano (considerado o primeiro ator brasileiro), Amélia Lopiccolo, Furtado Coelho, Ismênia dos Santos, Clara della Guardia e Ignez Imbimbo, ao mesmo tempo em que estreou a obra de Francisco Lobo da Costa, as montagens do Teatro Escola de Pelotas (TEP), que revelaria, dentre outros, Amilton Fernandes, que se tornaria conhecido mais tarde na televisão, além do conjunto significativo de trabalhos do diretor Valter Sobreiro Júnior, a que tive a oportunidade, inclusive, de assistir e registrar em algumas dessas colunas.  

     A música também ganhou seu espaço especial: Guiomar Novais e Magdalena Tagliaferro, dentre outros grandes nomes, apresentaram-se no Sete de Abril, além de Zola Amaro, Amelita Galli-Curci e outros tantos nomes que marcaram a música erudita e, especialmente, a ópera. As citações estariam incompletas se não se registrasse, aqui, Bidu Sayão, soprano extraordinário, que sempre encantava as plateias a que se apresentava.  

     Como era comum na época - e aconteceu inclusive com o Theatro São Pedro -, o Sete de Abril também foi palco de festividades carnavalescas, tanto quanto recebeu espetáculos de zarzuelas, muito populares ao final do século XIX, originárias da Espanha, mas que alcançaram enorme sucesso também no Brasil. O Sete de Abril, enfim, também se tornou cinema quando, em 1896, a nova arte chegava ao Brasil e despertava curiosidades e paixões. Foi Francisco de Paula quem revelou a nova arte em Porto Alegre e em Pelotas, logo após o sucesso dos irmãos Lumière em Paris: de fato, já em 26 de novembro de 1896, houve uma série de cinco espetáculos sucessivos desenrolados no teatro, para gáudio dos pelotenses. 

     A revelação mais recente é o Grupo Tholl, mas isso já é outra história. Por enquanto, torçamos para que o lançamento deste livro (Libretos, Porto Alegre) seja uma espécie de avant-première do retorno daquele teatro ao convívio da cidade.

Matéria publicada no Jornal do Comércio de 18/01/2013
http://jcrs.uol.com.br/site/noticia.php?codn=114008

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