Osmose – Brasil e Alemanha em quadrinhos
Por Audaci Junior
Editora: Libretos –
Edição especial
Autores: Mawil, Paula Mastroberti, Birgit Weyhe, Amaral,
Aisha Franz e João Montanaro (roteiro e desenhos).
Preço: R$ 32,00
Número de páginas: 88
Data de lançamento: Setembro de 2013
Sinopse
Seis quadrinhistas, sendo três brasileiros e três alemães,
realizaram um intercâmbio artístico por quatro semanas, em cidades nas quais
nunca estiveram, para criar uma história em quadrinhos sobre as experiências
longe de casa.
Positivo/Negativo
Na Biologia, osmose é o fenômeno que se produz quando dois
líquidos, de desigual concentração, separados por uma parede mais ou menos
porosa, a atravessam e se misturam.
O projeto homônimo, idealizado e coordenado pelo Goethe-Institut
Porto Alegre, resulta nas experiências de artistas de várias faixas etárias,
que ultrapassaram as fronteiras de seus países para “misturar” e traçar suas
perspectivas inseridas em uma nova cultura, língua, clima, paisagens e
sensações.
Integrando as comemorações da Temporada Alemanha +
Brasil 2013-2014, o projeto contou com a curadoria do jornalista especializado
em quadrinhos e tradutor Augusto Paim e a coordenação editorial do quadrinhista
José Aguiar, cocriador do Gibicon – Convenção internacional de quadrinhos
de Curitiba.
O luxuoso volume em capa dura conta com seis histórias de
dez páginas cada uma, de um trio brasileiro e outro trio alemão, que trocaram
de cidades por um mês, no segundo semestre de 2012.
A gaúcha Paula Mastroberti trocou Porto Alegre por Berlim,
enquanto o alemão Mawil fez o itinerário inverso. Birgit Weyhe saiu de Hamburgo
(destino do piauiense Amaral) para São Paulo. Já a alemã Aisha Franz trocou
Berlim por Salvador e o jovem paulista João Montanaro deixou momentaneamente a
“terra da garoa” e foi para Munique.
O resultado é um caleidoscópio colorido e em preto e branco
norteado por vários estilos, direções e narrativas (documentais e ficcionais).
Quem abre o álbum é o berlinense Markus Witzel, conhecido
como Mawil, único do trio alemão que já teve uma obra publicada no
Brasil, Mas podemos continuar amigos (Zarabatana).
Na figura do baixinho Supa-Hasi (“super-coelho”),
representado seu alter ego, o quadrinhista conta com bom humor sua passagem por
Porto Alegre, onde questiona como o Goethe-Institut Porto Alegre ganha
dinheiro por só verem gastarem com sua estada, elogia as paisagens naturais,
fica desconcertado e surpreso por ser reconhecido em virtude da HQ Mas
podemos continuar amigos e observa semelhanças entre os países.
Inspirada no conto Rosa Branca e Rosa Vermelha, dos
irmãos Grimm, que a gaúcha Paula Mastroberti mostra sua visão da capital alemã.
Unindo colagem e desenho, a autora faz sua dinâmica e surreal versão sem as
amarras do documental.
Já Birgit Weyhe faz uma pegada mais antropológica e visceral
de São Paulo, mostrando suas dez verdades sobre a metrópole brasileira. Muito
inventiva, a alemã mostra um panorama de vários aspectos sob a ótica de uma
estrangeira: a beleza e a feiura da selva de pedra, o barulho da cidade, seja
do trânsito ou dos pássaros matutinos, os gostos e a comunicação.
O que mais se destaca na narrativa de Weyhe é seu
questionamento histórico e antropológico presente na arquitetura e nas divisões
de classes da “pauliceia desvairada”. A artista radiografa uma reflexão desde a
presença de monumentos aos colonizadores até a ausência dos negros em castas
sociais ou na ditadura da moda e da publicidade.
Representante nordestino no projeto, Antônio Amaral faz da
sua experiência em Hamburgo uma extensão de seu trabalho experimental, visto em
obras como a premiada Hipocampo.
Suas cores vibrantes e quentes fazem de suas abstratas
páginas uma visão poética – mais sentida do que entendida – da cidade alemã.
Uma grande experiência sensorial com a sempre ousada diagramação do piauiense.
Única história sem texto, a janela da alemã Aisha Franz, de
Salvador, mistura um mosaico de brasilidades. O seu “fluxo narrativo” lembra um
pouco a xilogravura do cordel e a arte naïf, ambas bem presentes na
cultura nordestina.
Por fim, João Montanaro foi o único dos brasileiros que
optou por uma HQ mais documental, com seu corriqueiro humor contrabalanceando
com suas impressões (mais sérias) de Munique.
Os destaques são a sua forma despojada de retratar a cidade
e a maneira criativa de narrativa (uma splash page mostra a complexa
arquitetura de Marienplatz, uma praça do centro da cidade, e o “desanimado”
quadrinhista se queixando de como é difícil desenhar o lugar).
Flertando também com as diferenças culturais, o “cidadão do
Terceiro Mundo” pontua como os alemães lidam com a memória e a educação em
relação ao Brasil.
Completando a edição bilíngue, uma apresentação de José
Aguiar e um posfácio do curador Augusto Paim sobre como foi a metodologia
aplicada para a seleção, ilustrado com estudos, esboços e artes do sexteto.
Além da obra impressa, cada quadrinhista abasteceu um blog do projeto com textos,
artes e fotos durante suas experiências, complementando os bastidores do
conteúdo produzido deOsmose.
Classificação
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