segunda-feira, 28 de julho de 2014

Jéferson Assumção lança A Vaca Azul é Ninja em uma vida entre aspas pela Série Libretos Poche

     “O escritor é um monstro moral,” já disse Dalton Trevisan, fazendo-nos pensar em uma das funções da literatura. “Elemento negativo da cultura”, conforme Teixeira Coelho, a arte serve para revirar, arejar, constituir-se em algo que instaura insegurança para a “doxa”, para as opiniões formadas, seguras. É isso o que pensa (e faz) também a Vaca Azul é Ninja, personagem surrealista e iconoclasta de Jéferson Assumção, representação irônica de um tipo de intelectual em crise no nosso tempo.

    O escritor Luiz Antonio de Assis Brasil, no texto de apresentação, fornece algumas pistas sobre o perfil da protagonista “... a Vaca Azul, irreverente, brilhante, incombustível, dedica sua liberdade vacum para bagunçar a cultura estabelecida e vergastar (às vezes, literalmente) o nosso mundo e horrorizar seu interlocutor Jey Jey”, descreve Assis Brasil.

    Para Jéferson Assumção, a realidade está se transformando com tanta velocidade que um certo tipo de intelectual (e talvez de artista) encontra-se muitas vezes perdido, trocando em muitas situações os pés (ou as patas, no caso da Vaca) pelas mãos, de maneira até mesmo violenta a tentar entender o que ocorre ao seu redor. "Nessa época de transformações profundas na legitimação do artístico e do conhecimento formalizado e sistemático, seu distanciamento da realidade, ou do senso comum, poderia ser pensado não apenas como inadequação ao mundo, mas até mesmo como um distanciamento vital dele, abstrato, artificial: uma vida entre aspas. É o que a Vaca Azul é Ninja simboliza", observa.

   Esta narrativa literária com ares de história em quadrinhos, com muitas situações divertidas, trabalha com o alegórico parodiando ainda clássicos da Filosofia e da Sociologia. Provocativo, o livro convida constantemente o leitor a fazer alguns questionamentos, como no trecho reproduzido a seguir: “Contra a falsidade do mundo, o que o escritor faz não é ficção – A Vaca Azul pensava, e a porrada comendo –, faz a realidade à medida que investe contra as convenções, num trabalho que Hegel chamaria de ver o mundo ‘pelo avesso’. Daí a dignidade da indignação, do esperneio, da inconformidade, daquele que quer desvelar este mundo de mentiras, revelar o funcionamento do teatro, em vez de vivê-lo". Abstrata, possível fruto da loucura do narrador, A Vaca Azul é Ninja usa a violência, a ironia e as artes marciais para atacar (teórica e literalmente) a sociedade contemporânea. O livro propõe uma reflexão sobre o momento atual, em que a sociedade repensa valores. E todos nós estamos incluídos nesta metáfora, podendo até sermos as vítimas das artes místicas e guerreiras do antigo Japão, praticadas pela Vaca Azul, a serviço do que ela acredita ser o verdadeiro, o bem e o belo.

A obra, licenciada pelo autor via Creative Commons, integra a Série Libretos Poche
(Livros de Bolso) e tem lançamento no dia 31 de julho, às 19h, na Pinacoteca Bar - Rua da República, 409 - Cidade Baixa.

    Jéferson Assumção é autor de mais de 20 livros, entre novelas infantojuvenis, livros de ficção e de filosofia. Desde 2011, é secretário-adjunto de Cultura do Estado do Rio Grande do Sul. Foi secretário municipal de Cultura de Canoas e coordenador-geral de Livro e Leitura, no Ministério da Cultura. Formado em Filosofia, doutorou-se em León, Espanha, com tese sobre a obra do filósofo espanhol José Ortega y Gasset (1883-1955).

A Vaca Azul é Ninja em uma vida entre aspas

Jéferson Assumção

Série Libretos Poche - Livros de Bolso

2014, 120 p., 12cm x 17cm

R$25,00 (no lançamento, R$20,00)

31 de julho, às 19h


Pinacoteca Bar - Rua da República, 409 - Cidade Baixa

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