Carlos Motta – Luis
Nassif Online
qua, 18/10/2017 - 18:56
O jornalista Ayrton Centeno incorporou o espírito do saudoso
Sérgio Porto, que sob o pseudônimo de Stanislaw Ponte Preta, retratou, em
vários livros, a imensa quantidade de idiotices do Brasil mergulhado numa
ditadura militar - o famoso e imortal Febeapá (Festival de Besteiras que Assola
o País) -, para escrever uma obra que mostra o golpe de 2016 sob um novo
ângulo: o humor.
"Um partido das mulheres
sem mulheres, um deputado que discursa em defesa de um bombom, um senador que
se apresta a nomear uma melancia, um presidente que troca Paraguai por Portugal
e confunde Noruega com Suécia. É o que acontece em um lugar que ficou
muito estranho nos últimos anos. Que país é este? Ora, é o país onde o líder do
governo no Senado fala assim: 'Se acabar o foro, é para todo mundo. Suruba é
suruba. Aí é todo mundo na suruba, não uma suruba selecionada.' Pode-se
chamá-lo então de o país da suruba”, diz trecho do release distribuído pelo
autor para divulgar o seu trabalho.
"O País da Suruba",
publicado pela editora Libretos, tem o subtítulo de “155 provas - e não apenas
convicções - de como o golpe de 2016 diminuiu, ridicularizou e emburreceu o
Brasil” e seu autor participará de uma tarde de autógrafos na Feira do
Livro de Pelotas no dia 5 de novembro, e na Feira do Livro de Porto Alegre no
dia 11 do mesmo mês, acompanhado do ilustrador Edgar Vasques e do jornalista
Elmar Bones, que estarão no debate que integrará a programação.
"Todo regime espúrio aumenta
exponencialmente a produção da besteira nacional, a história se repete agora e,
claro, novamente como comédia, ou, mais precisamente, como tragicomédia",
explica Centeno, para acrescentar em seguida que "uma das afinidades entre
os golpes de 1964 e de 2016 está no regressismo, a revanche do velho contra o
novo, do arcaico contra o moderno, do passado contra o futuro".
O jornalista lembra uma frase
do crítico literário Roberto Schwartz sobre o golpe de 1964, para mostrar a
afinidade com este último: “O golpe apresentou-se como uma gigantesca volta ao
que a modernização havia relegado." Ele lembra que figuras apagadas,
muitas vezes caricatas, ergueram-se das sombras para encenar aquilo que
Schwartz definiu como “um espetáculo de anacronismo social”.
"E anacrônico é justamente o
picadeiro feroz em que o Brasil se converteu pós-golpe de 2016", diz
Centeno. "O Executivo, sob o tacão de um bando de homens brancos, ricos,
velhos, retrógados e, dizem por aí, corruptos, remete diariamente à sociedade
decisões toscas, cabeçadas na parede e gafes em escala industrial. O
insaciável Legislativo disputa com o Executivo quem é o mais impopular. O
Judiciário, antes discreto, move-se para o centro do palco, jogando-se também
na fogueira das vaidades, fascínio que também engolfou promotores, procuradores
e policiais, além dos donatários das capitanias hereditárias da mídia e seus
comunicadores, quase todos atrelados ao discurso patronal", enfatiza o
jornalista.
Autor de outros três livros,
entre eles "Os Vencedores", de 2014 (Geração Editorial), onde resgata
o combate dos jovens à ditadura de 1964, Centeno, para escrever a sua última
obra, compilou na imprensa, ao longo dos dois últimos anos, centenas de
situações pitorescas, que selecionou para recontá-las, em "O País da
Suruba", com bom humor e ironia cortante.
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