terça-feira, 20 de novembro de 2018

Ensinamentos de 2013 a 2019 – parte 1/5 – não subestimai as classes dominantes

      É difícil negar que está em 2013 um marco fundamental do que aconteceu no Brasil nos anos seguintes, na política institucional e na sociedade. É a partir das mobilizações daquele ano que temos muitas lutas populares se desenvolvendo – as ocupações de escolas e universidades, a Primavera das Mulheres, até mesmo o #EleNão. E também é a partir daquele ano que as forças reacionárias partem para as ruas e as redes para chegarão poder via golpe de 2016 e, agora, a ultradireita ganha força com a vitória eleitoral de Jair Bolsonaro (PSL).

     2013 tem muito a ensinar a 2018, e, em cinco partes, como cinco são os anos que nos separam e nos unem a 2013, escreverei um pouco sobre esses ensinamentos. O primeiro ensinamento é: não subestimai as classes dominantes.

     Esse é um ensinamento que já deveria ter sido aprendido em 2013 e o não-aprendizado é parte do que nos custou a eleição deste ano. Em 2013, faltou a todo o campo popular – uns de uma forma, outros de outra – a noção clara de que a direita estava se reinventando – não no conteúdo, mas na forma. Ali, enquanto parte do campo popular deslumbrava-se com as ruas tomadas e outra parte negava-se a ouvir as ruas, setores liberais/ou ultrarreacionários disputaram e, em grande medida, ganharam as mobilizações.

    As lutas daquele ano nasceram pela esquerda, em Porto Alegre, com a defesa do transporte público como parte do direito à cidade. Evoluíram, ainda no primeiro semestre, para lutas mais amplas e profundamente democratizantes, da manutenção do espaço público à ampliação da participação popular. Mas em junho, quando tudo estourou a partir de São Paulo, as direitas – midiática, empresarial e rentista – começaram a agir, empurraram às ruas uma massa indignada – em parte com razão – mas que até aquele momento era totalmente alheia à política – ou seja, facilmente influenciável. Conseguiram direcionar a indignação social contra o governo federal, enxertaram nas ruas pautas alheias ao que originalmente propunham os manifestantes. Aprenderam que as ruas e as redes também podiam ser disputadas à direita e, assim, deram início ao processo social que resultaria no golpe de 2016, no avanço conservador e, agora, na vitória de Bolsonaro.

     Entre o final de 2017 e meados de 2018, muitos analistas e militantes, cientistas políticas e jornalistas cravaram que Bolsonaro havia “batido no teto”. Mais uma vez subestimaram a direita. Fizeram pouco da História, que nos mostra que o dinheiro sempre tem seus caminho. Com uma campanha construída no subterrâneo e na carona do antipestismo e da antipolítica, o “teto” de 10 ou 15% foi subindo até derrubar do sonho ingênuo os que subestimaram as classes dominantes e seus recursos ideológicos. Um ensinamento que 2013 já nos deixava e que não foi aprendido a tempo de evitar um desastre maior. 2019 precisa nascer com essa lição aprendida.


Foto: Alexandre Haubrich / Jornalismo B (uma das fotos do livro "Nada será como antes - 2013, o ano quenão acabou, na cidade onde tudo começou" - AlexandreHaubrich, Editora Libretos)



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