A ambição que gerou esse livro era
aparentemente simples: oferecer a seis cartunistas (três brasileiros e três
alemães) uma residência artística de quatro semanas em uma cidade que eles não
conhecessem para, posteriormente, cobrar deles um registro desta experiência na
forma da produção de uma história em quadrinhos. A idéia original deste projeto
foi de Reinhard Sauer, diretor do Instituto Goethe de Porto Alegre; a produção
executiva do projeto ficou a cargo de José Aguiar, também ele um conhecido
autor de quadrinhos, e a curadoria do projeto (que envolveu manter um blog com a documentação
e o desenvolvimento das atividades de intercâmbio dos artistas) foi assinada
por Augusto Paim. Experiências deste tipo não são incomuns. A busca por
vivenciar e descrever quase imediatamente contrastes culturais, sociológicos e
estéticos é algo que o homem faz deste sempre (desde que o primeiro aventureiro
dentre os homo sapiens sapiens voltou a sua tribo para contar o que
viu em um outro vale, em uma outra caverna). Talvez o que chame a atenção do
projetoOsmose seja o gênero literário escolhido, já que nem sempre as
narrativas em quadrinhos são tão bem acolhidas, como o foi, por uma instituição
de difusão cultural tão poderosa como o Instituto Goethe. O resultado são seis
relatos bem distintos. As propostas do alemão Mawil (que sai de Berlim
para Porto Alegre) e da alemãBirgit Weyhe (que sai de Munique para São Paulo) são
as mais interessantes do ponto de vista sociológico (para o meu entendimento
das coisas). As propostas da alemã Aisha Franz(que sai de Berlim para Salvador), do brasileiro Amaral (que
sai do Piauí para Hamburgo) e do brasileiro João Montanaro (que
sai de São Paulo para Munique) as mais curiosas do ponto de vista plástico. A
proposta da brasileira Paula Mastroberti (que sai de Porto Alegre para
Berlim) é a mais ficcional, menos documental, é a mais parecida com uma graphic
novel convencional. O roteiro delas é mais ou menos previsível. O sujeito
sai de sua rotina e experimenta uma vida provisória, mas nenhum deles está em
uma situação limite ou corre riscos, pois sabe de antemão que aquele mundo
desaparecerá (como num conto de fadas) após um período de tempo que é pequeno
demais para que o indivíduo realmente se transforme. As primeiras impressões
podem ser válidas, corretas e acertadas, mas também podem apenas descrever
superficialmente a cultura complexa e distinta que é encontrada. De qualquer
forma, apesar da inerente fugacidade das primeiras impressões que eles teem das
coisas que veem, trata-se de um livro divertido. Talvez seja o caso de
acompanhar a produção plástica destes seis artistas. Quase esqueço de registrar
que a edição é bilíngue, e muito bem acabada. E vamos em frente.
[início - fim: 08/11/2013]
"Osmose - Brasil e Alemanha
em Quadrinhos / Osmose: Brasilien und Deutschland in Comics", Aisha
Franz, Amaral, Birgit Weyhe, João Montanaro, Mawil, Paula Mastroberti, tradução
de Luciana Dabdab Waquil e Ralf Krämer, Porto Alegre: editora Libretos
(coordenação de Goethe-Institut Porto Alegre), 1a. edição (2013), capa-dura,
21x29 cm., 88 págs., ISBN: 978-85-88412-81-1
POSTADO POR AGUINALDO MEDICI SEVERINO ÀS 22:00
Link para a postagem original: http://guinamedici.blogspot.com.br/2013/11/osmose.html
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