Autor de livro sobre a Coligay: "Era uma torcida que
quebrou paradigmas"
Jornalista Léo Gerchman fala de "Coligay — Tricolor e
de Todas as Cores", livro que será lançado terça-feira
Por Luiz Zini
Pires
O jornalista Léo Gerchman fala de "Coligay —
Tricolor e de Todas as Cores" (Editora Libretos, 192 páginas, R$ 35),
livro que será lançado terça-feira, às 19h, na Saraiva do Praia de Belas
Shopping, na Capital.
– O que o levou a
escrever um livro sobre a torcida Coligay?
Por ser uma torcida que, apesar de não existir mais, deixou
sua marca. O professor Ruy diz no livro, num capítulo todo que dediquei à ótima
entrevista que fiz com ele: os guris da Coligay abriram espaço não só para
homossexuais, mas também para as mulheres, que eram chamadas de vadias caso se
arriscassem a encarar uma arquibancada. Isso, hoje, parece medieval. A verdade
é que é medieval! E foram valentes, marcaram época. O Oberdan, o Iúra, o Ancheta,
todos, contam como a Coligay os apoiava, com devoção, e que isso dava uma baita
injeção de ânimo para aquele grande time que o Grêmio teve em 1977, essencial
na história do clube, talvez o responsável pela abertura dos caminhos que
levaram aos títulos nacionais e internacionais. E eles nunca brigavam. Era uma
torcida que quebrou paradigmas, deu exemplo e mostrou um jeito de apoiar o time
que não existia. Mais do que isso: levou a diversidade para os estádios.
– O preconceito do
clube, dos torcedores e dos adversários ajudou a abreviar o final da torcida ou
existem outras causas?
Não, eles enfrentaram tudo isso com muita inteligência. A
torcida terminou unicamente porque seu líder e idealizador, o Volmar Santos,
voltou para Passo Fundo. O Volmar representou para a Coligay mais do que o
Brizola representava para o PDT, para tentar ilustrar a importância da sua
liderança. Ele era a alma da torcida Coligay.
– Como a Coligay por
ser localizada na linha do tempo?
A Coligay surgiu quando havia apenas a Eurico Lara, que era
a torcida oficial, e a Força Azul, que era uma dissidência em busca de
independência. Teve torcedores da Força Azul que a deixaram para entrar na
Coligay. A Coligay levou para os estádios um jeito inédito de torcer, que se
tornou comum depois. Foi uma torcida pioneira, desbravou diversos caminhos, em
variados aspectos, não só de gênero.
– E as de outras
equipes?
Não sei explicar o que houve no Inter. A Interflowers, como
a Flagay e outras, não tiveram espaço. Acho que, da parte do Grêmio, a sensibilidade
do presidente Hélio Dourado ajudou. Um homem tido como politicamente
conservador teve a visão de aceitá-los. Dourado estranhou. Depois, o Volmar foi
até ele e pediu espaço. Ele levou muito em consideração o gesto do Volmar. Para
o livro, me disse, falando com aquele "erre" dobrado: "eram
grrremistas". O que eles faziam fora do Olímpico, depois do jogo, não me
interessava.
– Há espaço para uma
torcida igual no Brasil?
Ao mesmo tempo em que hoje não há uma Divisão de Costumes na
polícia, algo próprio da ditadura, existe uma violência disseminada. Isso
complica. Só que complica para todos, não só para gays. Em termos de
homossexualidade, ficou mais fácil. Quem é gay, cada vez mais, se assume, o que
é ótimo. Antes, assumir a homossexualidade era um drama inimaginável para
nossos padrões atuais. Enfim, o mundo evolui.
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